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Sobre As possibilidades da memória & as ciladas do esquecimento, li recentemente, num revista italiana, entrevista do poeta – e artíficie da liberdade tcheca, presidente VacLav Havel, onde diz:
O que está acontecendo conosco?
Cada semana sai uma nova geração de telefones celulares.
Para poder usá-la você tem necessidade de instruções detalhadas.
Aí você passa todo seu tempo lendo as novas instruções, em vez de ler livros – sobre pensamento, humanidade e filosofia.
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Será verdade que a tecnologia faz rima com felicidade?
Nos tornamos felizes pela posse do último iPhone. Ou pela compra de um refrigerador que nos avise que se acabaram os ovos e ordene a ida ao supermercado?
Dezenas de outras pesquisas provam: os gadgets eletrônicos nos dão uma euforia que, rapidamente, se transforma em frustração.
O homem é um animal adaptativo, em poucas semanas o sentimento de bem-estar pela conquista de uma inovação, de uma nova tecnologia, se esvai.
Os psicólogos chamam isto de adaptação hedônica: não importa quão apaixonante seja a última inovação, nem quão simples seja a nossa vida: logo daremos por superada…
E não só: A satisfação oferecida pelo dinheiro se atenua com o crescente das ambições.
O Prêmio Nobel de Economia Daniel Kahneman chama isto de armadilha da expectativa crescente.
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O mundo moderno corre o risco de sofrer da síndrome do click.
Tudo é rápido.
O que nos faz desligar o celular rápido, até sem o cumprimento da despedida, pela urgência de nos comunicarmos rapidamente com o próximo.
A dependência que se cria com os servomecanismos:
O portão eletrônico, o sensor que acende a luz.
Esta síndrome do click é perigosa, sobremaneira, para as crianças e os jovens. Eles não aprendem que é necessário investir tempo para obter alguma coisa. Não, cada vez que você faz um click, que você aciona um botão, neste mundo que é reprodução dos “vídeo games”, você obtém um resultado.
E isto se transfere a todas as ações humanas.
Nós perdemos a cognição da existência do tempo.
A felicidade de transcorrer este tempo.
Perdemos o prazer da espera. Já não ouvimos os sinos das vésperas…
Afinal, se eu tiro da vida o fator tempo, eu suprimo um fator potencial de felicidade.
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As tecnologias tiram tempo ao hábito de cultivarmos a palavra, o conto, as estórias, e a recordação das emoções.
As tecnologias nos privam do banquete dos deuses, aquele referido por Píndaro, que nos torna eternos, reconciliados com a vida.
E a suprema tristeza é o Twitter, onde o horizonte inteiro das emoções humanas é restrito a 140 caracteres. Ali as pessoas anotam o que estão fazendo e o que estão sentindo, isto porque, a felicidade se esquece depressa… E mais depressa ainda…quando é uma felicidade virtual.
Toda essa reflexão nos remete a este momento auspicioso da abertura da primeira Bienal do Livro na nossa amada cidade de Curitiba.
A cidade dos Faróis do Saber, das bibliotecas públicas junto aso terminais de ônibus, nas Ruas da Cidadania, a cidade com mais bibliotecas públicas de bairro do Brasil – e quiçá do mundo – recebe a partir de hoje a feira do Livro e da Literatura.
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Pelos livros podemos perceber as infinitas possibilidades de memória e ainda escapar das ciladas do esquecimento.
Rafael Greca
27/08/2009
Programação completa:
http://www.bienaldolivrocuritiba.com.br/
Texto na integra: Comigo.